terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Dia de Ação de Graças: “Ninguém apareça de mão vazias perante mim”

Otávio Júlio Torres

Na Bíblia, os motivos de ação de graças a Deus abrangem uma série de situações bem diversificadas. Noé, após um ano na arca, ao desembarcar com seus familiares, ofereceu sacrifícios de louvor a Deus (Gn 8.20-21). Salomão, ao dedicar o Templo, ofereceu a Deus 20 mil bois e 100 mil ovelhas (1Rs 8.62-63). Jesus, conforme os evangelhos, ensinou-nos a agradecer a Deus pelo alimento (Jo 6.11,23), pela saúde (Lc 17.16). O apóstolo Paulo agradece pelo alimento (At 27.35; Rm 14.6; 1Co 10.30; 1Tm 4.13), pela paz (At 24.2) e livramento de perigos (At 27.35; 28.15); pela comunhão no evangelho (Fp 12.13) e pelo crescimento do evangelho (Fm 4); e pelo amparo recebido de Deus e da Sua Igreja (Rm 7.25; Rm 16.4; 1Co 1.14; 14.18; Fm 4; 1Ts 5.18; Rm 1.21; 1Co 1.4; Cl 4.2; Fp 4.6; Cl 3.17.; Ef 5.4). Por tudo isso, a conclusão do apóstolo em 1 Tessalonissenses 5.15: “Em tudo, dai graças”!

No entanto, como marco celebrativo, o dia de ação de graças está diretamente relacionado com a gratidão a Deus pelo fruto da terra, recebido como bênção divina (Dt 16.10). A história dessa celebração no ocidente também reporta a este contexto. Peregrinos ingleses, de tradição protestante, vindos aos Estados Unidos, celebram um dia de ação de graças a Deus pela abundante colheita que fizeram depois de enfrentar grandes dificuldades para se estabelecerem no “Novo Mundo”.[1]

Na Bíblia, o povo de Deus realizava uma Festa chamada xavu‘ot[2], conhecida como Festa das Semanas ou da Sega, celebrada ainda hoje em nossas igrejas como Festa das Primícias. Seu elemento principal é a gratidão e o reconhecimento da provisão de Deus pelos primeiros frutos do trabalho no campo. O relato bíblico mais antigo desta festa está em Êxodo 23.16a: “Guardarás a Festa da Sega, dos primeiros frutos do teu trabalho, que houveres semeado no campo”.

Sua mensagem para a nossa vida não está relacionada apenas com o seu sentido direto de agradecimento a Deus pelas bênçãos de mantimentos recebidas. Na verdade, como celebração de gratidão a Deus, ela é o fruto do relacionamento íntimo com Ele, adquirido nas solenidades anteriores. Há necessidade de uma preparação prévia para participar desta celebração. As festas da Páscoa e dos Pães Ázimos preparam o espírito para xavu‘ot, quando levam o povo à confissão de pecados, à purificação, à santificação e à obediência ao Senhor. Essa preparação é que despertará gratidão no coração, gerando as ofertas, a adoração e o louvor prestados ao Senhor na celebração do Dia de Ação de Graças.

Levíticos 23.15-21 relata os detalhes do ritual desta festa, em três momentos:

1. Uma nova oferta de Cereais ou Oblação (homenagem) deve ser entregue. São as primícias ao Senhor, oferta movida diante Dele (movimento de levantar e baixar a oferta). Também são oferecidos dois pães cozidos, feitos com o trigo da nova colheita e fermento. Estes pães representam o povo. Um pão é dedicado no holocausto e o outro, como oferta pelo pecado. Isso marca a importância da presença de todo o povo como parte do ritual.

2. Oferta pelo pecado, como marca de arrependimento, confissão e purificação. Devem ser oferecidos ao Senhor um bode e dois cordeiros de um ano com o pão das primícias.

3. Sacrifícios pacíficos. Falam da paz e da comunhão do povo com o Senhor. As pessoas tinham acesso a comer destes sacrifícios porque, anteriormente, houvera a purificação do povo. Assim, era possível chegar diante do Senhor em adoração, louvor e gratidão. A partilha dos alimentos comidos pelo povo é o diferencial aqui. Além disso, o seguimento do texto (v.22) garante a extensão da bênção do fruto da terra também aos pobres e estrangeiros.

A grande mensagem que precisamos aprender para celebrar o Dia de Ação de Graças ao Senhor é que ninguém deve aparecer de mãos vazias perante Ele. Dedicar as primícias do nosso trabalho a Deus só faz sentido quando lhe dedicamos nossa vida em confissão, purificação, santificação e obediência.

É importante ainda destacar que se trata de uma celebração realizada em meio a muita alegra, regozijo e gratidão. Uma festa em que todos os feitos de Deus são a medida para as ofertas dedicadas, tendo o coração grato e voluntário.

Estes princípios devem sempre ser relembrados e compartilhados na vida da igreja, como parte da formação cristã do nosso povo, com vistas ao seu crescimento. O aspecto ritual da festa nos ensina que a repetição, o memorial e a ampla participação do povo são marcantes para uma educação efetiva e a formação da identidade do povo. Isto valia para os israelitas e valem também para o povo cristão.



[1] Para um melhor conhecimento histórico do Dia de Ação de Graças, consultar http://www.bonde.com.br/bonde.php?id_bonde=1-12--120-20081127

[2] Consulte o texto do professor Tércio Machado Siqueira para mais detalhes, no link: http://www.metodista.br/fateo/materiais-de-apoio/estudos-biblicos/a-festa-de-pentecostes-no-antigo-testamento

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