sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ano que vai, ano que vem

fonte: Expositor Cristão Jan/2011

O que, de fato, termina quando um ano se encerra? A vida das pessoas é feita de muitas etapas, que se somam, resultando em realizações ou frustrações pessoais, profissionais e familiares. O final de um ano e início de outro é sempre uma etapa de avaliação, de retrospectiva. O povo de Deus na Bíblia, muitas vezes, fez esse tipo de “balanço”, para destacar a força da presença divina em cada momento do ano ou da sua história (Sl 78).

Um balanço da vida

No Salmo 124, quem ora afirma que a luta da vida foi muito grande, ao dizer: “Não fosse o Senhor que estivesse ao nosso lado...” (v.1). Para o salmista, apenas a proteção divina pode impedir que as ameaças destruam a vida. Ele se sente livre, depois do desafio, e afirma: “O nosso socorro está em o nome do Senhor, que fez o céu e a terra” (v. 8). Para o orante do Salmo 67, o período das colheitas encerra um ciclo de esperanças e expectativas que tem um final feliz: “A terra deu o seu fruto. E Deus, o nosso Deus, nos abençoa” (v. 6).
Outro momento de avaliação do povo de Deus aconteceu quando, depois de uma luta contra os filisteus, Samuel, profeta e juiz, coloca uma pedra entre as cidades de Mispá e Sem, como um marco do avanço de Israel. Com este gesto, Samuel declara: “Até aqui nos ajudou o Senhor” (1 Sm 7.12). Os marcos, aliás, são algo muito importante em nossas vidas. Quando atingimos determinada etapa, sonho ou fase da caminhada, é muito comum que esses momentos se tornem marcos para nós. Desta forma, o final de um ano não é, necessariamente, o final de uma etapa, mas a possibilidade do passo seguinte; da revisão das metas; do novo olhar para dentro de nós mesmos; para uma nova aproximação de Deus.

Viver e amadurecer
Com o final de mais um ano, percorremos o caminho da maturidade pessoal, familiar e religiosa. Vivemos um ano muito difícil e cheio de pedras e espinhos. Vimos como a violência entrou nas casas, levando filhos a matar os pais e vice-versa. Vimos conflitos internacionais e demonstrações de poder e subjugo dos povos. Vimos, no caso da nação brasileira, um sentimento de vitória e renovo na posse da nova presidenta.
Mas, por outro lado, presenciamos a continuidade da impunidade pública e a continuação do domínio dos chefões do narcotráfico por toda a parte, apesar das afirmativas em contrário. Todas essas situações podem ser oportunidade de todos/as nós, como sociedade, pararmos para refletir sobre nossa atuação cidadã. Se fizermos isso de forma consciente e libertadora, é possível que o ano de 2011 nos permita escrever linhas mais solidárias, justas e igualitárias... (Jr 29; 31.17; Pr 23.18).
Em síntese, o final do ano é um marco em nossa trajetória. Olhando para trás, podemos aprender com nossas limitações, dúvidas e ansiedades, tornando-nos mais amadurecidos para o ano seguinte (Lm 3.21). Também é preciso fazer prospectivas, projetos para o novo ano que se aproxima.

Expectativas de futuro
O salmo 121 fala das expectativas diante dos desafios apresentados pela vida: “Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro” (v. 1)? Ao iniciar um novo ano, este mesmo conflito se coloca diante de nós. De onde vem a nossa esperança, onde depositamos nossas expectativas? Hoje, porém, as pessoas estão colocando sua confiança sobre outras bases, que não o Senhor, quando pensam em seu futuro. Pesquisas divulgadas em todos os anos nos meios de comunicação afirmam que os/as jovens estão se preocupando primeiro com a segurança do diploma universitário e de uma carreira profissional. Depois vêm os outros fatores, como a constituição de uma família, por exemplo.

O salmista prossegue em sua oração dizendo que o seu socorro vem do Senhor, que é maior do que os montes, porque fez o céu e a terra (v. 2). A esperança precisa estar depositada na fonte correta, para que não se desfaça ou leve ao desengano. A esperança de um futuro melhor não pode estar centrada no eu, tão somente se eu consigo um bom emprego ou um curso superior; mas na soma dessas coisas com a minha fé, minha família e demais valores de uma existência.

E, por fim, essa esperança correta dá coragem para se tornar um peregrino, um caminhante em direção ao local da adoração, em Jerusalém. São diversas as expressões do salmo sobre essa caminhada confiante: “o Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. De dia não te molestará o sol, nem de noite, a lua. O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma” (v. 5-7). Entre essas expressões, destaca-se ainda: “... não permitirá que teus pés vacilem” (v. 3). Além do sentido próprio deste texto, também podemos inferir que a presença de Deus em nossa vida nos permite tomar decisões firmes, sem ter que “pisar em ovos” ou percorrer “areia movediça”.
A certeza de que Deus caminha conosco é a grande fonte que alimenta a chama de nossa vida. Assim, o ano que vem não será aguardado com ansiedade e temor, mas com alegre expectativa e regozijante esperança: pois Deus é aquele que te guarda, que guarda a tua saída e a tua entrada em cada ano e em cada decisão, até a chegada final aos portões eternos! (v. 8).

Rev. Otávio Júlio Torres
Igreja Metodista em Caguases, MG, 4ª Região
www.sofiaeteo.blogspot.com

Dicas para um ano novo na presença de Deus - sermão de ano novo Cataguases

Texto bíblico: Hebreus 10.19-23

1. Aproximemo-nos: precisamos desenvolver relacionamentos. Para isso, temos de estar próximos. Isso inclui reconhecer os limites das pessoas, suas necessidades e desejos, suas particularidades e riquezas no convívio. Por isso, a aproximação requer coração sincero e purificado, bem como o corpo lavado (o batismo é um sinal visível do Reino; ele nos dá acesso à comunidade de fé, nos faz filhos de Deus e é sinal de unidade).

Cântico: Perto quero estar

2. Guardemos a confissão da esperança: temos vivido tempos de reclamações, tristezas e incertezas. Temos de ter em mente a esperança cristã, que consiste em saber que Deus é o guardião final de nossa história, o autor de nossa vida e que sua vontade é boa, agradável e perfeita para nós; que tudo coopera para o bem dos que amam a Deus.

Cântico: Minha esperança está no Senhor

3. Consideremo-nos uns aos outros: pessoas felizes são aquelas que estabelecem relacionamentos. É hora de reconhecer as pessoas que neste tempo nos têm abençoado por partilharem conosco sua existência. É hora de dizer obrigado, me perdoe, eu te amo, eu te perdoo e todas essas expressões que nos conectam uns aos outros na família, na igreja e na sociedade. Considerar uns aos outros é, segundo o autor de Deus, estimular ao amor e às boas obras. Alguém considerado também passa a considerar e as coisas são transformadas!

Cântico: Aliança do Senhor

4. Não deixemos de congregar-nos. A vida em Cristo se expressa em sua forma visível, qual seja, a Igreja local. Não falo de estruturas, embora estas sejam necessárias, mas do reconhecimento de pertencermos a um grupo no qual temos espaço para acolhida, serviço e crescimento.

Cântico: Fico feliz em vir em tua casa

5. Devemos ver que o Dia se aproxima. Quanto mais os anos passam, mais nos aproximamos do dia em que estaremos diante de Deus. Seja porque morreremos, seja porque Ele virá (eu creio, embora haja quem duvide). Desta forma, devemos ter diante dos olhos que nossa vida não é passageira, no sentido de fútil, mas singular. Nossa oportunidade de felicidade e realização é aqui, agora. O tempo de servir a Deus é este. Embora venhamos a sonhar com o gozo celestial, isso jamais deve diminuir a importância e o valor desta vida. Devemos viver como se cada dia fosse único e precioso. Porque, de fato, é.

Cântico: Deus enviou seu filho amado

Feliz ano novo!

Hideide Brito Torres

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

“NÃO TEMAS, PORQUE MAIS SÃO OS QUE ESTÃO CONOSCO DO QUE OS QUE ESTÃO COM ELES” (LEIA 2 REIS 6.8-23)

Otávio Júlio Torres


Visão de Deus: é o que precisamos em dias como os de hoje. Dias em que sofremos tantas perseguições e tribulações; dias em que muitas pessoas olham para as igrejas e seus dirigentes com desconfiança (e existem razões para fazerem isso); dias em que a opção de muitos é pela desistência ou descrença em Deus. Sobretudo, é preciso visão de Deus para reconhecer que “mais são os que estão conosco do que os que estão com eles”.

Minha palavra nesta pastoral é para você que crê em Deus, mas se encontra na situação do jovem que acompanhava o profeta Eliseu, a temer a força e número dos inimigos à volta, prontos para arrebatá-lo. A única coisa que lhe restou foi o desespero, expresso em suas palavras: “Ai! Meu senhor (Eliseu)! Que faremos? Porque é exatamente isso que os inimigos de Deus querem fazer conosco: quer que os temamos! Porque assim, minarão todas as nossas forças, não permitindo que vejamos mais nada, senão a incapacidade de acreditar, de ter a visão de que “os que estão conosco são maiores do que os que estão com eles”.

Deus quer que você olhe ao redor e não veja somente a opressão que o cerca, que lhe faz temer, que lhe faz desistir dos “sonhos de Deus” para a sua vida. Deus quer que você olhe novamente e veja que Ele já providenciou tudo o que você precisa: a libertação e a vitória sobre as milícias do mal. No entanto, você pode estar perguntando: o que eu faço para não ver somente a opressão dos inimigos e temer, mas para ser capaz de ter a visão de Deus? A resposta está com o profeta Eliseu. Vamos seguir os seus passos:

Seja conhecido como um “homem (ou uma mulher) de Deus”: É um título bíblico que expressa a estreita associação de uma pessoa com Deus. Na Bíblia, somente Samuel, Elias e Eliseu (1Samuel 2.27; 9.6; 2 Reis 17.18; 4.9) foram dignos desse nome. É verdade que, mais tarde na história do povo de Israel, esse nome é substituído por “profeta de Deus”, que significa aquele que fala em nome de Deus, aquele que é mensageiro de Deus. Isso pressupõe, portanto, que o homem de Deus é aquele a quem Deus confia os seus mistérios. A partir de Jesus, os homens de Deus passaram a ser chamados de discípulos e discípulas a quem Deus dá a conhecer os seus mistérios (Marcos 4.11). Mas o grande segredo é que os homens de Deus não dão a si mesmos esse título, nem mesmo os discípulos escolheram serem assim chamados. Aceitaram a vocação de Deus e foram reconhecidos pelo povo. Com eles estavam os sinais de Deus. Eliseu fez um manancial de águas más se tornarem saudáveis, multiplicou o azeite da viúva, fez fértil o ventre de uma estéril, ressuscitou um morto, multiplicou pães, curou um leproso, fez flutuar um machado e cegar um exército inimigo (2 Reis 2.19-6.23). Aos seus discípulos, Jesus lhes disse que seriam acompanhados de sinais: “Em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, ficarão curados” (Marcos 1617-18).

O poder da oração: Alguém já disse que oração é ação. E é exatamente o que Eliseu faz imediatamente depois encorajar o rapaz. Primeiro, intercede por seu discípulo: “Senhor, peço-te que lhes abras os olhos para que veja”. Eliseu já havia sido discípulo de Elias e adquirido experiência com Deus; agora era a hora de passar adiante. Sua oração nos ensina que é preciso todo o povo de Deus ter a mesma visão, para que ocorra a mudança da realidade. A segunda oração é mais ampla: “Fere, peço-te, esta gente de cegueira”. A realidade é completamente transformada: os inimigos, agora, estão subjugados. Mas o interessante na continuação da narrativa é que o homem de Deus não responde à ação dos inimigos com a mesma “moeda”, mas os abençoa e despede em paz. Hoje sabemos, com o apóstolo Paulo, que “a nossa luta não contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais, nas regiões celestiais” (Gálatas 6.12). A oração é a porta para o mover de Deus. Quando oramos, Deus age.

Portanto, “não temas, porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles”.

Dia de Ação de Graças: “Ninguém apareça de mão vazias perante mim”

Otávio Júlio Torres

Na Bíblia, os motivos de ação de graças a Deus abrangem uma série de situações bem diversificadas. Noé, após um ano na arca, ao desembarcar com seus familiares, ofereceu sacrifícios de louvor a Deus (Gn 8.20-21). Salomão, ao dedicar o Templo, ofereceu a Deus 20 mil bois e 100 mil ovelhas (1Rs 8.62-63). Jesus, conforme os evangelhos, ensinou-nos a agradecer a Deus pelo alimento (Jo 6.11,23), pela saúde (Lc 17.16). O apóstolo Paulo agradece pelo alimento (At 27.35; Rm 14.6; 1Co 10.30; 1Tm 4.13), pela paz (At 24.2) e livramento de perigos (At 27.35; 28.15); pela comunhão no evangelho (Fp 12.13) e pelo crescimento do evangelho (Fm 4); e pelo amparo recebido de Deus e da Sua Igreja (Rm 7.25; Rm 16.4; 1Co 1.14; 14.18; Fm 4; 1Ts 5.18; Rm 1.21; 1Co 1.4; Cl 4.2; Fp 4.6; Cl 3.17.; Ef 5.4). Por tudo isso, a conclusão do apóstolo em 1 Tessalonissenses 5.15: “Em tudo, dai graças”!

No entanto, como marco celebrativo, o dia de ação de graças está diretamente relacionado com a gratidão a Deus pelo fruto da terra, recebido como bênção divina (Dt 16.10). A história dessa celebração no ocidente também reporta a este contexto. Peregrinos ingleses, de tradição protestante, vindos aos Estados Unidos, celebram um dia de ação de graças a Deus pela abundante colheita que fizeram depois de enfrentar grandes dificuldades para se estabelecerem no “Novo Mundo”.[1]

Na Bíblia, o povo de Deus realizava uma Festa chamada xavu‘ot[2], conhecida como Festa das Semanas ou da Sega, celebrada ainda hoje em nossas igrejas como Festa das Primícias. Seu elemento principal é a gratidão e o reconhecimento da provisão de Deus pelos primeiros frutos do trabalho no campo. O relato bíblico mais antigo desta festa está em Êxodo 23.16a: “Guardarás a Festa da Sega, dos primeiros frutos do teu trabalho, que houveres semeado no campo”.

Sua mensagem para a nossa vida não está relacionada apenas com o seu sentido direto de agradecimento a Deus pelas bênçãos de mantimentos recebidas. Na verdade, como celebração de gratidão a Deus, ela é o fruto do relacionamento íntimo com Ele, adquirido nas solenidades anteriores. Há necessidade de uma preparação prévia para participar desta celebração. As festas da Páscoa e dos Pães Ázimos preparam o espírito para xavu‘ot, quando levam o povo à confissão de pecados, à purificação, à santificação e à obediência ao Senhor. Essa preparação é que despertará gratidão no coração, gerando as ofertas, a adoração e o louvor prestados ao Senhor na celebração do Dia de Ação de Graças.

Levíticos 23.15-21 relata os detalhes do ritual desta festa, em três momentos:

1. Uma nova oferta de Cereais ou Oblação (homenagem) deve ser entregue. São as primícias ao Senhor, oferta movida diante Dele (movimento de levantar e baixar a oferta). Também são oferecidos dois pães cozidos, feitos com o trigo da nova colheita e fermento. Estes pães representam o povo. Um pão é dedicado no holocausto e o outro, como oferta pelo pecado. Isso marca a importância da presença de todo o povo como parte do ritual.

2. Oferta pelo pecado, como marca de arrependimento, confissão e purificação. Devem ser oferecidos ao Senhor um bode e dois cordeiros de um ano com o pão das primícias.

3. Sacrifícios pacíficos. Falam da paz e da comunhão do povo com o Senhor. As pessoas tinham acesso a comer destes sacrifícios porque, anteriormente, houvera a purificação do povo. Assim, era possível chegar diante do Senhor em adoração, louvor e gratidão. A partilha dos alimentos comidos pelo povo é o diferencial aqui. Além disso, o seguimento do texto (v.22) garante a extensão da bênção do fruto da terra também aos pobres e estrangeiros.

A grande mensagem que precisamos aprender para celebrar o Dia de Ação de Graças ao Senhor é que ninguém deve aparecer de mãos vazias perante Ele. Dedicar as primícias do nosso trabalho a Deus só faz sentido quando lhe dedicamos nossa vida em confissão, purificação, santificação e obediência.

É importante ainda destacar que se trata de uma celebração realizada em meio a muita alegra, regozijo e gratidão. Uma festa em que todos os feitos de Deus são a medida para as ofertas dedicadas, tendo o coração grato e voluntário.

Estes princípios devem sempre ser relembrados e compartilhados na vida da igreja, como parte da formação cristã do nosso povo, com vistas ao seu crescimento. O aspecto ritual da festa nos ensina que a repetição, o memorial e a ampla participação do povo são marcantes para uma educação efetiva e a formação da identidade do povo. Isto valia para os israelitas e valem também para o povo cristão.



[1] Para um melhor conhecimento histórico do Dia de Ação de Graças, consultar http://www.bonde.com.br/bonde.php?id_bonde=1-12--120-20081127

[2] Consulte o texto do professor Tércio Machado Siqueira para mais detalhes, no link: http://www.metodista.br/fateo/materiais-de-apoio/estudos-biblicos/a-festa-de-pentecostes-no-antigo-testamento