quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Jesus e o discipulado

Otávio Júlio Torres

O discipulado foi o modo particular de Jesus anunciar o Evangelho e reunir em torno de si seus primeiros seguidores. A proposta desta reflexão é apontar alguns caminhos usados por Jesus ao exercer seu discipulado e formar uma liderança capaz de gerar e sustentar sua igreja.

Jesus ensinou e treinou os discípulos
Jesus tinha um ministério de ensino privado, além daquele que utilizava para todo o povo. Ele ensina na sinagoga (Marcos 1.21), como fez em Nazaré (Lucas 4.16-21) ou “do alto do monte falando às multidões” (Mateus 5). Mas esse ministério não bastava para Jesus medir bem o aprendizado de seus discípulos, nem orientar ou corrigir de modo particular, como fez com Pedro (Marcos 8.31-33) ou com Tiago e João (Lucas 9.54). Ele investia mais tempo, em particular, com os doze discípulos, certamente considerando suas personalidades e conversão sincera.
Jesus instruiu seus discípulos nas verdades do Reino e eles fizeram o mesmo em relação a outros (Atos 20.25). Nós devemos fazer o mesmo. Assim, fica clara a necessidade de existirem níveis de ensino com os novos discípulos, para seu crescimento na vida cristã (Atos 14.21-22).

Jesus demonstrou como fazer, como sinalizar o reino
A autoridade de Jesus se baseava no fato de que Ele vivia aquilo que ensinava. Ao vê-lo em ação, pessoas diziam: “O que é isso? Um novo ensino com autoridade!” (Marcos 1.27). Os fariseus tinham aparência e formalidade, mas não conseguiam viver integralmente o ensino ministrado. Paulo denuncia tal fato também (Romanos 2).
No texto do lava-pés (João 13), Pedro reagiu a Jesus: “Nunca me lavarás os pés”, porque entendia “autoridade” e “posição” como superioridade. Rabi (Raboni) era o mestre escriba, cujo nome pode ser traduzido por “meu Senhor”, como uma posição de alto destaque e importância social.
Mas Jesus cingiu-se com uma toalha – como faziam os servos aos seus senhores – e, tomando água, passou a lavar-lhes os pés, recomendando-lhes seguir o exemplo (João 13.14-15) e disse: “O empregado não é superior ao patrão, nem o mensageiro mais importante do que aquele que o enviou” (João 13.16). Não basta falar, é preciso agir.
Jesus usou parábolas ao ensinar sobre o Reino de Deus: “...é semelhante a um tesouro oculto no campo” (Mateus 13.44). Essa ilustração usa fatos da vida comum aos seus ouvintes; demonstra uma situação prática. Devemos buscar nossa coerência entre o ensino e a ação. Mas não se trata de uma imagem idealizada e perfeccionista. As pessoas discipuladas devem entender que a limitação humana existe e, por isso, erros podem ocorrer, mas que a graça nos redime e nos reorienta a uma vida justa, santa e vitoriosa, como foi a do Mestre Jesus.

Jesus deu responsabilidade aos seus discípulos (Mateus 10; Lucas 9-10)
Os discípulos aceitaram a Jesus e à sua mensagem, aprenderam com ele, mas era preciso assumir uma responsabilidade, atender a um chamado radical e responsável. A autoridade e poder recebidos do Mestre não são um fim em si mesmos, mas uma capacitação para cumprir a missão.
Ao saírem pelas aldeias e cidades, eles se tornavam conhecidos como discípulos/testemunhas de Jesus, comprometidos com Ele. Pelo envio, aprenderam que eram capazes. A sua euforia no retorno (Lucas 10.17) mostra o quanto se sentiram encorajados e confiantes. Já podiam ser sujeitos, ministros e agentes do Reino.
Quando discipulamos, devemos oferecer responsabilidades práticas aos novos crentes, de acordo com suas experiências, e acompanhá-los na devida instrução e demonstração, como Cristo o fez.
Infelizmente, hoje, a maioria dos “cristãos” é mera espectadora. Ao serem recebidos, esses novos crentes não foram preparados e até desafiados a atuar como discípulos. E, uma vez que não aceitam ter responsabilidades na Igreja, eles não chegam a experimentar a alegria do “retorno”, nem a euforia e a testificação das bênçãos que, pelo nome e poder de Jesus, aqueles discípulos alcançaram (Lucas 10.17-24).

Jesus acreditou que os seus discípulos iriam discipular
Na conhecida oração sacerdotal (João 17), Jesus expressa sua vontade quanto à continuidade de sua obra por meio dos discípulos: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (João 17.18).
Apóstolo quer dizer enviado; e com a missão de fazer outros discípulos: “vos designei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça” (João 15.16). Outras pessoas seguirão aos discípulos como seguiram a Jesus (João 15.20). Mas observe: está prevista a rejeição. Mais ainda: a perseguição há de acompanhar o ministério do verdadeiro discípulo. Portanto, o crescimento ocorre por meio da fidelidade e da luta do dia-a-dia.

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