sexta-feira, 23 de julho de 2010

A respeito da forma do batismo cristão

Otávio Júlio Torres

O batismo cristão é um sinal da regeneração ou novo nascimento. Não deve ser entendido como ato de remissão de pecados. Na verdade, todos os textos bíblicos do NT narram que ele é aplicado na seqüência, exatamente como sinal da regeneração, do novo nascimento, e não como condição para isso. Portanto, é um momento posterior ao arrependimento. Os Cânones da Igreja Metodista assim definem o batismo: “O batismo é o sinal visível da graça invisível de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual nos tornamos participante da comunhão do Espírito Santo e herdeiros da vida eterna” (Cânones da Igreja Metodista, 2002, p.61).

Neste texto, o nosso objetivo é apresentar aos cristãos que praticam a aspersão, como forma de batismo, e que são questionados sobre a sua validade, argumentos bíblicos que corroboram em favor desta prática. Mas, não é do interesse deste texto refutar a prática batismal por imersão ou derramamento. O nosso entendimento é de que não é a forma que determina a validade do sacramento, mas a conversão pessoal que conduz ao Novo Nascimento em Cristo Jesus.

1. O termo imersão não aparece nos relatos bíblicos. Por outro lado, quando se trata de ritual de purificação, no Antigo Testamento, o termo aspersão (ou aspergir) aparece sempre. A Bíblia dos primeiros cristãos era as Escrituras, termo usado no Novo Testamento para referir-se ao Antigo Testamento. Por mais ou menos 1500 anos o batismo tinha sido administrado por aspersão e derramamento (ou efusão). O modo dos judeus se purificarem era por derramamento e aspersão, bem como o recebimento do Espírito de Deus (Números 8:5-7; Isaias 44.3-4; Ezequiel 36:25-27; Joel 2:28-29). São expressões tão comuns na Bíblia que, ao consultar uma concordância, derramamento e aspersão aparecem mais de 200 vezes. Os judeus aspergiam as pessoas e o livro com água (Hb 9.19-20 — é um texto do NT, usando o AT como exemplo de purificação ou remissão, v.22). Sobre a prática judaica da purificação, lemos ainda na passagem do casamento em Caná da Galiléia que “haviam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam nas purificações” (João 2.6). Nessas cerimônias as águas tinham de ser puras e, portanto de rios de águas correntes. Águas de piscinas, cisternas ou lagos não eram usadas, até por uma questão de higiene.

2. No Novo Testamento, o batismo está em referência ao recebimento do Espírito Santo, que desce sobre a pessoa. Didática e ritualmente falando, lembra a aspersão e não a imersão. Ainda há vários textos em Atos que colocam o ato do batismo no ambiente da casa (Atos 9.17-18; 10.22,47-48), em horário inapropriado para a imersão (Atos 16.25,33), em lugar público deJerusalém, onde só havia cisterna (Atos 2.37-39). Paulo, por exemplo, foi batizado em casa e de pé, segundo a narrativa de Atos 9.17-18).

3. O caso João Batista. Em Atos 11.15-16, lemos: “... caiu o Espírito Santo sobre eles... Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo.” O Espírito descia sobre as pessoas. Daí, fica a pergunta: Porque Pedro comparou o batismo com o Espírito Santo com o batismo de João? Provavelmente porque João batizava com água da mesma forma que o Espírito Santo descia sobre as pessoas, ou seja, aspergindo água sobre a cabeça das pessoas. Tanto no NT, como no AT, a manifestação do Espírito de Deus ocorre como aspersão; Ele desce sobre as pessoas e não emerge as pessoas nEle. Assim, é difícil interpretar a expressão “com água” por imersão, uma vez que a expressão “com o Espírito Santo” lembra a aspersão (leia Atos0 1.5; Isaias 32.15). Isto faz referência à mentalidade do povo. Se Israel não conhecia, como ritual, a prática da imersão, como se explica a mudança de mentalidade? Que textos bíblicos propõem isso? Ademais, é um erro, como propõem os defensores da imersão, traduzir o termo grego baptizo por imergir. Na verdade, se o fosse assim, em nossas Bíblias esse termo grego não era apenas transliterado para o português, à semelhança de sua pronuncia em grego, por batizar, mas deveria aparecer a palavra traduzida imergir. A confusão provém de seu uso na cultura Greco-romana, em que baptizo refere-se aos banhos públicos de purificação que essas culturas realizavam a seus deuses. Neste aspecto, é mais prudente ficar com a tradição judaica da aspersão. Nesta direção, há uma citação do Wikipédia, que vale a pena ressaltar: “A questão é que, se João Batista estivesse fazendo algo novo naquele contexto, os levitas e sacerdotes teriam justificativa para contestar o que estava sendo praticado. Pelo contrário, João Batista, era da linhagem sacerdotal (filho do sacerdote Zacarias) e a sua prática no rito de purificação não se chocava com a Lei e nem com os Profetas. Quando os discípulos de Jesus discutiram com os discípulos de João Batista sobre a "purificação", eles estavam se referindo ao batismo (João 3:25-26). Aliás, estes versos fazem a associação direta do verbo batizar com as purificações do Antigo Testamento presentes na Lei, nos Salmos e nos Profetas, tanto como ato de consagração como de purificação em si” (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Aspersão)

4. Ainda há um elemento histórico a ser considerado. A pergunta que se faz é a seguinte: Quando aparece na História da Igreja a primeira referência a batismo por imersão? Certamente, surge com os movimentos dos anabatistas, bem posterior à prática da Igreja Primitiva e cristã.

Conclusão:

O Novo Testamento, ao nos conduzir a Cristo (Gálatas 3:24), nos aponta para o batismo por aspersão. Contudo, entendo que não é a quantidade de água ou a formalidade do ato, mas o que o batismo representa para o batizando e para a comunidade em que se insere. O autor do livro aos Hebreus, afirma: “aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo sido aspergidos os corações de má consciência e lavado o corpo com água pura”, fato que deveria ocorrer no batismo. Aqui encontramos tanto o aspergir como o lavar. Assim, a essência não está no modo de aplicação do batismo, mas na fé e na manutenção de um coração purificado, nascido de novo em Cristo Jesus, diante de Deus.


Para pensar:

1. Se a imersão fosse o único modo de batismo aceito por Deus, muitas pessoas nas regiões geladas do norte e nos lugares desertos como o Saara, onde não se poderia obter água suficiente, não poderiam ser batizadas. Também pessoas doentes e hospitalizadas, ao se converterem, estariam impedidas de serem batizadas. Portanto, Deus teria ordenado uma impossibilidade?”

2. Muitas pessoas no tempo de Paulo e dos apóstolos davam mais importância a ordenanças exteriores, como a circuncisão, as lavagens (purificações), batismos, etc., do que à obra do Espírito Santo. Por isso, Paulo afirmava: “Graças a Deus que não batizei a nenhum de vós, senão a Crispo e Gaio” (1Co 1.14) e “Cristo não me enviou a batizar mas a pregar o evangelho” (1Co 1.17). O batismo era um assunto tão tranqüilo para Cristo e os primeiros Cristãos que não há sequer um sermão sobre o assunto no Novo Testamento. Pergunta: se o batismo cristão é por imersão e a prática do rebatismo é bíblica, onde lemos que os discípulos foram rebatizados ou imergidos em água. Quem lhes deu o batismo cristão (entendendo este por imersão)? Se o batismo por imersão é o batismo bíblico para os cristãos e para Deus, não seria de fundamental importância, as Escrituras do Novo Testamento narrarem o exemplo dado pelos apóstolos em seu batismo? Afinal de contas, eles eram da religião do judaísmo e assim, só conheciam o batismo pela aspersão.

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