terça-feira, 27 de julho de 2010

Sermão: A novidade de Deus na vida de uma família

Título: A novidade de Deus na vida de uma família
Texto bíblico: Lucas 15.15-20
Categoria: sermão temático

Otávio Júlio Torres


Introdução
Ao olhamos para a vida das famílias brasileiras, percebemos que elas vivem tempos de muitas mudanças e variadas experiências. A base da família hoje é composta de pai, mãe e filhos/as. É a chamada família nuclear. Durante muito tempo esse modelo de família foi considerado o ideal, o padrão por excelência. Muitosainda dizem ser este o padrão bíblico, divino, para a família. No entanto, notaremos no sermão de hoje que, independente da constituição familiar à qualpertencemos, siga ela ou não o padrão de família nuclear, Deus deseja fazer-se presente e, ainda mais, pretende promover uma novidade no seu seio. Não importase a família que você pertence esteja ou não em conformidade com aquilo quemuitos têm transmitido como o modelo ideal.


Os modelos de família no contexto bíblico
Mesmo quando abrimos nossas Bíblias, é importante notar a variedade de modelos de família. No Antigo Testamento impera o modelo patriarcal, em que o homem pode ter diversas mulheres. Podemos citar o exemplo da família de Samuel. Seu pai tinha duas mulheres, Ana, mãe de Samuel, e Penina (1 Samuel 1). Outro exemplo bastante expressivo é o do rei Salomão. 1 Reis 11.1 narra que Salomão amou muitas mulheres e o versículo deste mesmo capítulo especifica que ele teve setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas. Davi, seu pai, homem que agradou o coração de Deus e ficou conhecido como o maior de todos os reis de Israel, também desposou várias mulheres.

Com o passar dos séculos, a maioria das sociedades perceberam que esse modelo de família não era muito bom, pois as muitas desigualdades entre seus membros trazia grandes problemas. 1 Samuel 1 relata alguns desses problemas: Eucana era um marido dividido. Amava a Ana, mas recompensava a Penina, que lhe dava filhos (socialmente, os filhos, sobretudo do sexo masculino, garantiam a posteridade do nome do pai e da sua herança). Ana, por sua vez, se sentia inferior a Penina, por não poder dar filhos a Eucana. Já Penina, aproveitava a sua situação de ser mãe de filhos e, portanto, de ser socialmente mais importante,e oprimia a Ana. Por outro lado, o texto relata que Eucana amava só a Ana. Que tragédia de família!

Por isso, mesmo que a carta de 1 Timóteo 3.12 admoesta aos diáconos para que sejam maridos de uma só mulher. Entendo ter sido esse um dos grandes avanços da sociedade mundial no que diz respeito à instituição familiar.

Proposição
A família abençoada por Deus é só aquela composta por pai, mãe e filhos/as? Ou o amor de Deus está acima deste modelo socialmente aceito e apregoado como único padrão bíblico para instituição familiar?

O exemplo da parábola que Jesus conta
No tempo de Jesus, as famílias também sofriam mudanças. Ao contar a parábola do filho pródigo, em que Jesus quer destacar a novidade da graça e da salvação do reino de Deus na vida de uma pessoa, porque não dizer de uma família, ele faz uso de um modelo que havia no seu tempo. E, por sinal, muito comum hoje também: A família que Jesus usa na parábola é composta do pai e de dois filhos.

Diante deste texto, a pergunta que me inquieta é a seguinte: Por que Jesus, ao contar a parábola, oculta a presença da mãe? Será porque o objetivo que pretendia era exclusivamente narrar o amor de Deus por todas as pessoas, indistintamente de seus erros e pecados? Será porque, no sentido da história, o papel da mãe e da mulher não era necessário? Bem, o texto não menciona. Portanto, não passaria de conjectura qualquer conclusão que chegássemos a esse respeito. Por isso mesmo, o que nos importa, por hora, é destacar que Jesus faz uso de uma constituição familiar comum à sociedade do seu tempo. Considerando a religião, a cultura e organização social judaica do primeiro século, podemos concluir que a falta da mãe na parábola podia-se justificar por dois acontecimentos distintos: tratava-se de um homem viúvo ou divorciado. Neste último caso, naquele tempo, os filhos pertenciam juridicamente ao pai.

A primeira grande novidade que desperta a minha atenção nesse texto é que Jesus não tem preconceitos e não reprova, do ponto de vista religioso ou divino, um modelo de família “incompleto”, para falar dos intentos divinos. E isso está de acordo com a conclusão central da parábola: destacar que o amor e a graça divina acolhem a todos que desejam retornar a ele, independentemente de sua condição pessoal ou familiar.

É importante que eu seja bem compreendido no que estou pretendendo dizer. O fato de Jesus não usar, na parábola, o exemplo de uma família com pai, mãe e filhos, não significa que ele reconheça e aprove qualquer constituição familiar. Certamente, principalmente no contexto da sociedade atual, é um desejo e um ideal da maioria das pessoas constituir uma família composta de todos os seus membros, pai, mãe, filhos/as. Todavia, é preciso que se desmistifique a afirmação de que Deus somente abençoa ou se agrada da família que obedece a esse padrão, como muitos têm dito por aí. Certamente foi sintomático aos ouvintes da parábola notar a falta da presença da mulher, da mãe na história daquela família. Inclusive, do ponto de vista religioso daquela época, a explicação mais provável para esse caso já foi citado: ou o homem é viúvo ou divorciado (era permitido ao homem judeu, por lei mosaica, repudiar sua mulher).

Por isso, digo ser uma novidade a atitude de Jesus. E o mais incrível é que, no desfecho da parábola, Jesus dá a entender que a falta da mãe não impediu a felicidade da família, ainda que o filho mais velho não tenha visto com bons olhos a atitude do pai com o filho mais novo. No entanto, ao que parece, o final da história dessa família tem tudo para dar certo. O pai demonstrou seu amor e tem ambos os filhos em sua casa. O filho mais moço amadureceu com as experiências negativas que viveu no mundo e percebeu que ninguém o ama mais do que seu pai e o filho mais velho aprendeu que dentro de casa não é apenas um administrador e zelador dos bens da família, mas recebeu de seu pai a declaração de que tudo ali também lhe pertencia. A benção foi completa na vida daquela família.


Considerações finais
É precisovoltar à proposição deste sermão: Afinal, só está debaixo da bênção de Deus aspessoas, cujas famílias seguem o modelo nuclear?

Como vimos no texto bíblico apresentado, ao falar da bênção de Deus, Jesus não se ateve em usar o modelo da família nuclear. Isso nos leva a concluir que Deus não se limita em abençoar somente as famílias compostas por pai, mãe e filhos/as. No texto, o mais importante, é o AMOR. E, por amor, Deus, em Cristo venceu o pecado humano, para nos conceder a salvação gratuita. Se podemos falar em padrão bíblico, apenas o amor é colocado como o cumprimento de toda a lei, como disse Jesus. Jesus também afirmou: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam.”

Uma advertência: Aqui não estou me posicionando contra a família nuclear. Não! Inclusive, pertenço a uma família nuclear. Tenho esposa e duas filhas. E é uma bênção. É muito bom saber que posso compartilhar minha vida com minha esposa e minhas filhas. No entanto, o amor de Deus é maior que o pecado que levou pessoas a se separarem. Deus as ama. Deus quer abençoá-las e fazer delas pessoas salvas e remidas em Cristo Jesus.

Com este sermão, quero afirmar que o amor e a bênção de Deus estão sobre todas as pessoas que, pela fé, o aceitam. Reconstruir suas vidas familiares ou viver sob outros modelos, que não sejam de relações homesexuais (que transgridem a natureza de gênero e, portanto, frustram a criação divina), não afasta a bênção de Deus e o próprio Deus de perto das pessoas.

Dessa forma, não precisamos nos espantar ao encontrar no seio de nossas Igrejas famílias constituídas por avôs e seus netos e netas, mães sozinhas com seus filhos, famílias adotivas (com crianças que não foram geradas biologicamente pelo casal), casais sem filhos, etc. Podemos ver nesses casos não uma distorção da realidade familiar, mas novas formas de ser e estar juntos. Gosto muito de uma frase, dita por uma criança e recontada por Déa Kerr Afini, que diz: “Lar é uma porção de gentes que se amam”. Essa, sim, é a verdadeira constituição familiar, segundo o ensino do Mestre, no qual os laços de amor são a real fonte e fundamento da vida.

Deus seja louvado!

Um comentário:

  1. Durante esta semana estive idealizando fazer uma pregação alusiva a família abordando exatamente os tipos de famílias, e após haver "construído" as bases do sermão passei a buscar alguns textos que fossem esclarecedores ou elucidatórios para várias outras questões, quando então deparei-me com seu sermão temático em tela. E havendo encontrado semelhanças no modo de pensar, mesmo não havendo tempo hábil para tal, solicito sua autorização para utilização parcial de sua pregação no culto de hoje 24/03/13.
    Que Deus esteja lhe abençoando ainda mais, e que continuemos nossa luta por famílias aos pés do Senhor.
    Cordialmente
    Pr. Eduardo Nascimento
    Igreja Evangélica Maanaim/RJ

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